terça-feira, 21 de março de 2017

O menino invisível

O menino invisível abre os braços
E ao invés de abraços, mexe as mãos nervosamente
O menino não quer ser invisível, ele copia
Ele vê o que os outros fazem e tenta repetir
O menino invisível é criativo, mas não neste mundo
Neste mundo, prefere copiar
A criatividade pode estar numa foto, numa paisagem
Num sorriso, numa brisa, num abrigo
O menino invisível gosta de abrigos
Mas prefere mostrar que fala com todos
Prefere dizer que está feliz, que encontrou finalmente a paz
Mas ele não está em paz
Ele abre os braços, e ao invés de abraços
mexe nervosamente as mãos
O menino é invisível, mas o reflexo no espelho dói
O reflexo diz-lhe que ele não é ele
Diz que a idade não reflete a sua idade
Diz que o tempo não corre como quer
Ora sente dor pelo que o tempo lhe toma
Ora sente medo pelo que o tempo lhe dá
E o menino já é pai
O menino sofre porque não cresceu
E tenta ensinar sem saber
Tenta sorrir sem querer
Tenta e continua a tentar
Porque a memória curta é seu alento
Esquece o que sofre e assim, reinventa o presente
reinventa com o vento
e renasce quantas vezes puder