quarta-feira, 29 de outubro de 2008

A insustentável multiplicidade do ser

Lembro-me do final do filme Dangerous Liaisons em que Marquise de Merteuil limpa o rosto do excesso da maquiagem com que diáriamente apresentava-se.  A queda de uma máscara faz-se sentir ao espelho.

Em tempos de crise, a maquiagem de Estado promete transformar grandes investimentos em grandes oportunidades, enquanto a oposição transforma os futuros gastos em futuros problemas.  Entretanto, envelhecemos, as crianças jogam nos seus computadores Magalhães, endividamo-nos comprando carros topo de gama enquanto os bancos leiloam nossos imóveis.

Chegou a hora de limparmos o rosto.  Fomos grandes navegadores. Fomos e podemos ser. Mas o problema é que pensamos que somos ou que apenas queremos ser: vemos o passado como algo que simplesmente passou, não vemos como aprendizagem, como possibilidade.  Ao invés do possível, do que podemos alcançar, filosofamos sobre desejos, sobre sonhos, sobre planos.  Vivemos à deriva da possibilidade, em meio ao desejo do inalcançável, vivendo os dias como se não houvesse futuro, como se não tivesse havido passado.

Nasce a insustentável multiplicidade de cada um de nós.  Nós, portugueses, que vivemos esta realidade que julgamos real, sabemos que afinal não somos tão bons, não somos tão perfeitos.  Mas enquanto a reação lógica poderia ser assumir a queda, limpar o rosto do excesso e enfrentarmos as rugas que sempre foram nossas, preferimos continuar mascarados.  Somos grandes lá fora enquanto chorámos em casa.  Mostramos força durante o dia e dormimos com calmantes e anti-depressivos.

Espero que um dia aprendamos o quanto é importante poupar para investir no futuro, pensar na educação antes da tecnologia "made in Portugal", pensar na estabilidade sustentada antes do comodismo, no que podemos fazer com investimento e dedicação e não com o simples desejo.  É hora de esquecermos a máscara que nos esconde do espelho, que nos esconde de nós próprios.  Precisamos conhecer e aprender com nosso passado, ver o presente sem maquiagem, e traçar o caminho do futuro.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Como falar de amor

Como falar se o vulgar é corrente, se a energia cria-te e cerceia tua força?  Como culpar quem te vive intensamente, quem te sobrepõe ao viável, ao plausível?  Como esquecer quando teu abalo abriu às raízes, pelas rachaduras, a tua terra, teu suor, teu fogo, teu fôlego?  Como falar, como recriar, se tu és o que não és, mas o que julgas ser em cada um de nós?

Where the streets have no name

Starts like a hymn.  Grows like a thunder.  I feel some magic, some mystic vibration hearing that song.  Simply perfect, a classic 21 years later...

sábado, 4 de outubro de 2008

Made in Portugal II

Sou produto de Portugal nascido no Brasil.  Sinto-me português, sinto-me brasileiro, sinto-me global.  Não há pátrias, raças, partidos, claques e grupos quando simplesmente somos do Mundo.  Sou intolerante à intolerância, mas se a democracia o permite, porque esconder que sinto-me triste em saber que há racismo e xenofobia?

Made in Portugal

A mestria dos mares de sal converte-se, mesmo que tardiamente, na dos mares da tecnologia.  É bom ouvir "Made In Portugal", agora sob a voz de outro Magalhães.