quinta-feira, 29 de maio de 2008

Maio maduro Maio*

Maio já estás para lá de Marrakesh, qualquer coisa.

Já qualquer coisa entre tuas nuvens mexe.

Não raia sol nem no sul nem no norte,

Mas, alto lá, o sol espreita a chamar o Verão...

Será Junho o mês com os dias a cantar?

Venham ver, Junho está a nascer

Que a voz não falhe pela chuva

O sol finalmente rompeu.

 

*  Contém citações à letra de Maio Maduro Maio de Zeca Afonso e à letra de Qualquer Coisa de Caetano Veloso

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Esperança

Mudo o que estava escrito, lavrado, consagrado.

A esperança é a primeira que renasce.

Por vezes

Por vezes uso muito o por vezes

Por vezes a chuva, por vezes o sol,

Por vezes, por soma, por subtração.

Por vezes o eu espera,

Por vezes encontra,

esperança.

O copo vazio

Por vezes eu não caibo em mim.  O copo que transborda seu vazio é de um vidro ora opaco, ora translúscido, ou mesmo transparente.  Do seu nada, da mão que o segura, nasce um corpo que espera pelo copo, espera pelo próprio corpo, espera.

O encontro que se quer

O que se quer acontece, afirmo.  A voz que sai da minha boca envolve o corredor sem fim que me separa de algo que só o encontro dirá.  Então decido correr.  Corro contra o tempo, o tempo que gasta o espaço.  Enquanto percorro vejo-o mais próximo, e o que percorri, caminho já feito, é de água do rio, sem retorno.  Por vezes quero voltar atrás neste corredor mas o encontro é mais forte, é o que se quer mais forte, mar salgado à espera da foz.

terça-feira, 27 de maio de 2008

As pessoas que passam por mim

Ando e vejo pessoas.  Não consigo deixar de olhar-lhes a face, focar-lhes nos olhos, mas elas passam, seguem seus destinos.  Encontro por vezes algumas na rua, no supermercado, na estação do metro, a andar como eu.  Elas continuam a passar.  Acho que por vezes o tempo que me faz viver este mesmo tempo que vivem faz-me ver sua evolução.  As pessoas criam, crescem, parecem diferentes de dia para dia. Queria estar sempre naquele mesmo ponto à mesma hora, a acompanhar cada passagem, presenciar seu caminho, viver o desejo e a realização do que pensam, criar e crescer com elas.  As pessoas que desconheço passam e ficam.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Até encontrar alguém de novo

The Blower's daughter, do Damien Rice - uma das músicas que mais gosto, daquelas que temos na nossa tal lista especial e que nunca esquecemos e que sempre que escutamos tomamos alguma atitude diferente como chorar, sorrir ou simplesmente deitar na cama com os braços sob a cabeça, e relaxar:

A parte que mais gosto, sinceramente, é a do fim, após tanta bela tristeza (fado?)  que a música e a letra me passam, escuto "I can't take my mind off you...  I can't take my mind... my mind... my mind... till I find somebody new".  Perfeito.  Amanhã é outro dia.

The spider web

She never stops working.  Each day she restarts a new way for her web.  She's a bug but she's not an it: she's a female.  She's the mother of word path, the bug hunting for a fly, the food for the future in the network of her virtual pet dreams.  I dream a little too, like many others, but as the spider, I try to follow my way in the network I built, I try to collect the flowers born meanwhile.  The spider is just following our steps, the writer and the reader, learning how to survive in a world sometimes without flies.  So I decided keep her going round and round in her web, connecting each node of something I always believed: one day many persons in the world will be really connected, without social, political neither egocentric constraints.  Let the spider web spread over our mind neuron connections.

 

Tradução para português:

A teia da aranha

Ela nunca pára de trabalhar.  A cada dia ela recomeça um novo caminho para sua teia.  Ela é um inseto, mas não é uma coisa: é uma mulher.  Ela é a mãe do caminho da palavra, o inseto à caça da mosca, a comida para o futuro na rede dos seus sonhos de animal de estimação virtual.  Eu também sonho um pouco, como muitos outros, mas, como a aranha, procuro  meu caminho na rede que construí, procuro colher as flores que nasceram entretanto.  A aranha segue nossos passos, o escritor e o leitor, aprendendo como sobreviver num mundo por vezes sem moscas.  Então decidi deixá-la às voltas na sua teia, ligando cada nó de algo que sempre acreditei: um dia muitas pessoas do Mundo estarão realmente ligadas, sem restrições sociais, políticas ou egocêntricas.  Que a teia da aranha se espalhe sobre as conexões dos nossos neurónios.

Liebe

Ich liebe die Welt,

I love the world,

J'aime le monde,

Eu amo o Mundo,

E muitas outras línguas que minha boca não alcança.

Tristeza do Mundo

Escuto Ayla, introspecto, mergulhado nos ritmos eletrónicos, quase sem a presença da voz humana, onde sons digitais dançam ao redor de um outro mundo, algures entre a inconsciência e a criatividade.  Tenho a tristeza do Mundo a meus pés, no calcanhar que era de Aquiles, bola de chumbo que me leva ao centro da Terra, na incandescente concentração de toda a força gravitacional.  Vejo o sismo na China, combustíveis e comida a aumentarem por especulação, guerra, fome, inveja, poder e frustação.  Meus pés estão imóveis.  A força que tenho para quebrar as âncoras (não as que lanço, mas as que me ancoram), concentro-as na escrita, em pegajoso choro em palavras pela tristeza do Mundo.  Enquanto o ambiente eletrónico do trance parece afastar minha mente desta realidade, continuo a escrever em uníssono, no ritmo desta força, contentora da dor que teima em permanecer invisível nesta face incrédula, envelhecida, de olhos vermelhos de cansaço.  É certo que é preciso acreditar, acender o lume do futuro, mas confesso que estou desapontado e hoje apetece-me sofrer com o Mundo.  Amanhã será outro dia.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Eurodance

Eurodance is getting old.  Almost eighteen years have passed... I miss the nights in Arouca, to walk through the dawn during the winter, with the sky plaint of starts, to dance on Noites Brancas bar.  I miss these songs:

U got to let the music, from Capella

More and more, from Captain Hollywood Project

The rhythm of the night, from Corona

It's my life, from Dr. Alban

...

I miss these songs outside my mind, I miss night life during my holidays in Portugal, when I used to live in Brazil.

Eurodance is getting old or it's just a thought of an almost 37 years old guy.

 

 

Tradução para português:

A Eurodance está a envelhecer.  Quase dezoito anos passaram... Sinto falta das noites em Arouca, de andar pela madrugada durante o inverno, com o céu cheio de estrelas, de dançar no bar Noites Brancas.  Sinto falta destas músicas :

U got to let the music, dos Capella

More and more, dos Captain Hollywood Project

The rhythm of the night, da Corona

It's my life, do Dr. Alban

...

Sinto falta destas canções fora dos meus pensamentos, sinto falta da vida noturna durante minhas férias em Portugal, quando ainda vivia no Brasil.

A Eurodance está a envelhecer ou é só o pensamento de um homem à beira dos 37 anos.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Se eu fosse um livro

Se eu fosse um livro seria um livro em branco, com tantas páginas como os segundos da minha vida, que me permitisse escrever cada suspiro, cada pensamento, cada devaneio, cada derrocada, cada anseio, cada felicidade, cada desejo, cada descoberta, cada palavra, cada letra, cada traço do lápis da vida.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

A song for China

As this song is part of my list of special songs, I would like to keep it as tribute to all chineses died and all their families, that even still alive, are suffering now their loses:

China, Little Earthquakes, Tori Amos

This song is, like all others I have in my special list, able to make my skin hair to stand on end.  It talks about the distance between two persons separated by an emotional wall.  I hope the wall that sometimes keep our hearts behind the curtains of our egocentric lives to be broken at least with this beautiful song and the great connection the china wall can have with our feelings.   We sometimes must do little earthquakes in our minds to cure the blindness we have to the Earth's sadness.

 

Tradução para português:

Como esta canção faz parte da minha lista de canções especiais, gostaria de colocá-la como um tributo a todos chineses que morreram e suas famílias, que mesmo permanecendo vivas, estão a sofrer pelas suas perdas:

<video de China, Little Earthquakes, Tori Amos>

Esta canção é, como todas as outras da minha lista especial, capaz de me fazer arrepiar.  Ela fala da distância entre duas pessoas separadas por uma muralha emocional.  Espero que a muralha que por vezes coloca nossos corações atrás das cortinas das nossas vidas egocêntricas seja desmoronada pelo menos com esta bela canção e a maravilhosa conexão que a muralha da china pode ter com nossos sentimentos.  Por vezes temos que criar pequenos tremores de terra em nossos pensamentos para curar a cegueira que temos à tristeza do mundo.

Arco-íris

16052008176

O pai e a menina foram à festa de Matosinhos.  A menina adorou os carros, sempre dando gritos de alegria a cada passagem pelo pai.  Ao final da festa, estava tão cansada e feliz que pediu ao pai para ir às cavalitas, e lá foi até ao Metro a contar o que tinha feito e o que ainda queria fazer.  Quando chegaram em casa, como era de se prever, a menina dormiu logo, mas teve um sono agitado... tão agitado, que até rolou e o fez tantas vezes que até parou no chão.  Coitada, a menina chorou, o pai acordou preocupado, mas quando a deitou de volta à cama, já o choro havia parado, e a menina dormia novamente, continuando às voltas nos carros do sonho...

No dia seguinte, era tempo da menina voltar para a mãe.  O pai, triste, ainda preocupado com a queda da menina, olhou para o céu nublado e, no meio do sol e da chuva, viu um arco-íris, e sorriu.  As cores lembravam-lhe a menina nos carros da festa a andar às voltas.  A menina trouxera o arco-íris para o final de mais um fim-de-semana especial e o pai dormiu mais descansado.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

O porquê da rede: web 3.0

Cheguei à Portugal em 1994.  Acompanhei o início do modelo comercial e popular da internet, com o "Netpac" e mais tarde com o "flat rate" da Esotérica.  Durante férias anteriores a 1994, observei o nascimento das TVs privadas SIC e TVI.  Mais tarde, já em Portugal, converti-me à TV Cabo e recentemente, já com uma televisão HD, preparo-me para a era digital.  Internet e TV, entre outros meios de comunicação em rede, transformam o próprio conceito de media digital, em que nós próprios fazemos a História, com nossas próprias vidas e em que somos parte do nosso próprio entretenimento: web 2.0.

Mas a palavra que mudou o mundo nos últimos tempos, e que nasceu de digitus (dedo em Latim), renasce mais uma vez com a media, com a participação de todos que já participavam da web 2.0, mas agora através de uma nova identidade, virtual, na forma de um avatar.  As contribuições que antes faziam a História agora o fazem sob a forma de uma ficção de si mesmo, como se precisássemos de uma nova pele para vivermos novas vidas, férias do nosso dia-a-dia, do nosso corpo, da nossa família, dos nossos amigos, ...  E quando voltamos dessas férias temos a certeza de que os dedos que apontaram para a grande mudança digital agora o faz mais do que meramente participativa, mas também criativa, pró-activa, reinventando a si próprio, questionando a própria manifestação, o próprio desejo, o próprio eu... estamos a caminho da web 3.0.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Laboratório de emoções e cozinha de escrita

Volto a escutar Há tempos dos Legião Urbana.  Esta canção passa a ser o retrato do que sinto.  A luz que vejo entre as folhas, a fotossíntese, a síntese da foto, autoretrato.  Entretanto, continuo a cozinhar palavras nos intervalos.

Símbolo esquecido

Se não lutarmos pelas pequenas faltas de liberdade que nos afligem, se não "incomodarmos" quem nos tira a liberdade, então, estamos a esquecer o símbolo, o "frágil" estado de direito que conseguimos com tanto esforço há 34 anos.  Já há algum tempo acompanho a situação que nasceu do direito a reclamar (ou a falta deste) exercido por um cidadão, que acabou por ser processado por difamação.  À estes casos juntam-se outros por Portugal fora...  Cabe-nos repensar o exercer do direito de reclamar e continuar a lutar quando se é processado por isso como pequenas acções que devemos ter para não esquecer o símbolo que por vezes se quer esquecido.

Felipão ou como ser chefe

Há dias vi a grande entrevista à Luiz Felipe Scolari por Judite de Sousa na RTP e, mesmo não gostando de futebol, não consegui desligar.  Num momento em que o futebol vive uma fase conturbada, carregada de corrupção e consequentes sanções, devemos repensar a forma como agem os que estão à frente de equipas, e não só no futebol.  É surpreendente o equilíbrio entre firmeza e compreensão neste profissional que trabalha desde 2003 pela (e não somente para a) selecção portuguesa.  Quando a motivação psicológica e emocional torna-se o pilar para a própria motivação e realização profissional, independente da fé que não impõe aos demais, mas que o move em seu dia-a-dia, só nos fica bem louvar e perceber como podemos aplicar o mesmo processo ao resto do mundo do futebol, ou mesmo a outros mundos.  Parabéns Felipão!

Verde

Por entre folhas a correr, entre galhos, da janela do autocarro, de volta para o Porto, lá está a casa branca.  Uma casa branca, simplesmente, iluminada pelo sol que atravessa as nuvens que insistem no céu.  Deixo para trás avós paternos e a mãe da minha mãe.  Minha avó materna só sente a solidão, relembra o passado, diz ver as filhas vestidas para ir à escola, lembra-se dos tempos em que todos estavam reunidos na casa durante as férias.  Ela quer saúde para os netos, e reza com os olhos brilhantes de emoção, correndo o terço entre os dedos cansados.  Os outros avós parecem ter esquecido este passado, pelo menos parecem.  Ele lembra quando a casa ainda só tinha pedra e precisava da madeira para continuar seu esforço.  Tem os pés inchados, o passado foi esquecido, mas prefiro não falar sobre isso, apenas sofro com ele.  Volto a olhar a casa branca, iluminada entre o verde das folhas, corridas pelas curvas apressadas do autocarro.  Vejo alguma esperança nos espaços vagos, como se precisasse afastar as folhas para perceber o futuro.  Espero que as nuvens dissipem, não as de chuva, mas as da alma.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Amizade

Há uma nova música no Canal Panda que o pai e a menina adoram.  Fala sobre a amizade e o refrão é como se segue:

 

Quando estamos tristes

Quem nos ouve, quem lá está

Melhor que ter amigos não há

Quando temos festa

Quem alegra, quem lá está

Melhor que ter amigos não há

 

A letra, melodia e colorido da imagem cativaram-lhes ao ponto de cantarem juntos.

- Canta de novo papá!

terça-feira, 6 de maio de 2008

Ancorar e ser ancorado

Ao navegar por mares desconhecidos, cabe a nós marujos do oceano da vida, criar as âncoras temporárias que lançamos aos locais que escolhemos. Quando o fazemos, criamos raízes, não profundas, mas as suficientes para sustentar nosso tronco e nossas folhas. Por vezes as âncoras deixam de ser temporárias, os locais que escolhemos tornam-se mais fortes, e o eu nómade passa a viajar em si mesmo. É preciso então cuidar em não ser ancorado, pois mesmo com raízes profundas, a liberdade do eu demanda espaço para outros mares desconhecidos.

sábado, 3 de maio de 2008

Quem ama

não espera ser amado, apenas ama

espera o tempo que for preciso, mesmo que não tenha tempo

vai até onde for preciso, mesmo que não haja caminho

porque quem ama cria o tempo e o caminho

quem ama simplesmete ama

sem condições, sem marcações, sem lista de desejos,

sem variações, sem divisões, sem paixões de uma só noite

quem ama simplesmente

segue seu caminho e o seu tempo,

o caminho que cruza com o do que é amado,

no mesmo tempo do que é amado,

mesmo que o que é não seja um ser,

talvez uma planta, ou um gato, ou um livro, ou um lápis

quem ama por vezes nem sabe que ama

apenas ama

ama apenas

e o que sente não passa, fica, permanece,

ontem amamos, hoje amamos, amanhã também

com intensidade, mas sem sufocar

com ardência, mas sem picada

com calor, mas com ar, água e terra,

com alimento